Mais do que uma romancista, Pagu foi uma investigadora do momento histórico e estético que viveu. Não aceitava a acomodação em nenhuma hipótese. Via o artista como um desbravador de novos mundos. Acredito que Pagu anda muito esquecida. E quando lembrada, é cultuada apenas como personalidade exótica. A “musa” de Oswald de Andrade. Mas Pagu é bem mais.
A rejeição da crítica ao primeiro romance da Pagu, “Parque Industrial”, foi o que despertou meu interesse por este livro. Meu espírito um tanto rebelde me leva a acreditar que sempre que uma obra é rejeitada com tanto empenho pelo status quo, que incomoda tanto o canône, é porque deve conter algum grande valor. Foi na busca deste valor que comecei a ler e estudar “Parque Industrial” como objeto do meu mestrado na USP.
Publicado em 1933, “Parque Industrial”, o romance mostra gente pobre da periferia de uma São Paulo em vias de industrialização. O heroísmo dramático de seus personagens consiste em tentar sobreviver em meio ao trabalho aviltado e às relações completamente desumanas. É uma proposta que encontra paralelo, na literatura contemporânea, em romances como “Cidade de Deus”, de Paulo Lins.
Redigido originalmente em 1998, para o meu mestrado, o trabalho foi editado pela Nankin e Ateliê Editorial cinco anos depois.